Já sabíamos de antemão que o jogo contra o Boavista iria causar-nos dificuldades, o derby da invicta é sempre algo complicado, independentemente do momento de forma que atravessem uma e outra equipa. Felizmente, nos últimos anos, a vitória sorriu sempre aos Portistas e, ontem, ainda que arrancada a ferros, com muito crer e raça, não foi excepção. No último suspiro, Hernâni mandou a redondinha para o fundo da baliza e fez explodir o universo azul e branco.
Como já vem sendo tradição, a estratégia dos axadrezados mais não é que travar de qualquer maneira o jogo do FC Porto, e quando se diz "de qualquer maneira" é mesmo sem nenhum exagero. Vale tudo, e ontem tiveram a complacência de um árbitro que permitiu que, até aos 30 min de jogo, o Boavista fizesse o que bem entendesse sem que lhes fosse colocado um travão. Foram, por isso, naturais as dificuldades em entrar e assumir o jogo da parte dos dragões. Qualquer tentativa de esboçar futebol pelo FC Porto era travada 5 segundos depois com uma falta e anti-jogo. Ainda assim, a equipa de Sérgio Conceição, foi juntando algumas boas oportunidades durante o primeiro tempo.
O intervalo chegava com 10 faltas para a equipa da casa (contra quatro) e 2 cartões amarelos (!!), 60% de posse de bola e 11 remates para o FC Porto, que apenas conseguiu enquadrar dois com a baliza de Helton Leite.
Na segunda parte, os azuis e brancos foram crescendo cada vez mais e, por consequência, descomplicando a difícil tarefa que tinham pela frente. As oportunidades continuaram a suceder-se, mas o desacerto imperava. Com a estratégia do "passa a bola, não passa o homem", jogadores como Oliver ou Brahimi, não conseguiram abrir o seu livro, até porque nem o melhor dos perfumes franceses consegue fazer face ao fedor de uma pocilga. Perdoem-me a analogia, mas o que se assistiu ontem, mais não foi que um tributo ao futebol sujo, de não jogar, nem querer deixar jogar. Felizmente que desde o ano passado, temos uma equipa que cresce e se transcende ainda mais, quando nos tentam complicar a vida da forma que ontem o tentaram fazer.
E é aqui que os méritos de Sérgio Conceição são cada vez mais e inegáveis. A situação do FC Porto poderia muito bem ser insustentável em termos desportivos e financeiros, não fosse a engenhosa capacidade de fazer da adversidade força do treinador portista e, ontem, não foi exceção.
Já muitos podiam não acreditar, o tempo era cada vez menos, mas a equipa foi incapaz de baixar os braços e venceu. Venceu, e muito bem ao contrário do que pode pensar Jorge Simão e o seu clube, que nada fez para ganhar mas achou o resultado injusto. Quando já tudo se preparava para festejar a escorregadela portista, fizemos xeque mate nas aspirações do benfiquistão, que teve de meter a viola ao saco e aguentar. Os peões deste tabuleiro tinham a lição bem estudada, bastou ver Ribeiro Cristóvão na análise ao jogo do benfica com o Feirense falar sobre os 2 pontos a que os encarnados ficaram do líder, para se ter uma ideia do que seria caso o FC Porto tivesse perdido pontos, e de como devem ter ficado após o golo nos minutos finais da partida.
Muito mérito ao treinador e à equipa que não se deixaram derrotar perante a adversidade, que acabou com Hernâni e Adrián lá na frente e que viu ser-lhe anulado um golo que não estava em fora de jogo. Mas isso nem interessa nada falar porque, assim, já não podem dizer que o FC Porto só venceu por causa de um penalti que não foi assinalado e depois ficam sem nada para dizer...e o patrão não o permite.
Continuamos líderes depois de uma jornada difícil. Vencemos e ganhamos ainda mais confiança na equipa e nos nossos objetivos. Venha a próxima jornada.
DESTAQUES
IN
HERRERA - O mexicano fez quatro remates (um enquadrado), criou uma ocasião flagrante em quatro passes para finalização, completou os dois dribles que tentou e ganhou cinco de sete duelos aéreos ofensivos.
ALEX TELLES - Se há jogador que se pode queixar da ineficácia atacante dos seus colegas é o lateral-esquerdo. O brasileiro terminou a partida com uma ocasião flagrante criada em impressionantes sete passes para finalização, realizou nove cruzamentos, dois deles eficazes, e ainda ganhou dois de três duelos aéreos defensivos.
HÊRNANI - Não sou fã do extremo português, nem um bocadinho. Não é agora que vai passar a ser o melhor mas ontem cumpriu e acrescentou à equipa o que lhe estava a faltar: acrescentou golo. Quando assim é, não há nada a dizer, a não ser desejar que mais momentos decisivos da parte de Hernâni se voltem a repetir que nós agradecemos e muito.
OUT
HUGO MIGUEL - Pode ter errado a favor do FC Porto com o penalti que não assinalou, mas antes disso foi permissivo face ao jogo duro da equipa do Boavista, deixando que durante boa parte dos primeiros 45 min se tornassem uma autêntica batalha (mas só para um lado), não ignorando o lance mal invalidade que daria a vantagem ao FC Porto no encontro.
BOAVISTA - Seja qual for o treinador que por lá passe, a estratégia contra os dragões foi, é e parece que será sempre a mesma: mandar abaixo, o resto depois vê-se. Com Jorge Simão não é exceção. Cabe-nos saber contornar esta rotunda da melhor forma. Se é que me entendem.